O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, defende que a Telebras assuma um papel estratégico na governança de dados e na infraestrutura para Inteligência Artificial (IA) no Brasil. A manifestação ocorreu durante pronunciamento em visita ao Centro de Operações Espaciais Principal (COPE-P) da empresa pública, em Brasília, na manhã desta terça-feira, 27.
“Eu vim na Telebras por que eu quero dar um exemplo para o Brasil. A gente vai fazer com que essa empresa seja uma empresa brasileira a serviço do brasileiro, da nossa soberania, do nosso centro tecnológico, da nossa Inteligência Artificial, da concentração do nosso banco de dados, e [para] prestar serviço ao povo brasileiro”, afirmou o presidente.
Lula visitou o COPE-P acompanhado de uma comitiva de ministros, entre eles, o ministros da Comunicação, Juscelino Filho, da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, e da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, e da Casa Civil, Rui Costa.
Durante seu pronunciamento, o presidente reforçou sua posição contra a privatização da Telebras, mas também afirmou que a empresa deve fazer parcerias com setores privados. “Eu acho que nós temos que trabalhar junto com a iniciativa privada, nós temos que tirar proveito do potencial que eles têm, e oferecer para eles também as coisas que a gente tem, mas trabalhar em parceria. Eu não preciso desmontar o Estado”, defendeu.
Para Lula, a inclusão das empresas públicas de comunicação no programa de desestatização foi “ignorância elevada à sétima potência”, pois, na sua visão, há coisas que “precisam, inexoravelmente, ser do Estado”, a exemplo dos serviços da Telebras e dos Correios.
“Uma empresa como essa aqui é uma garantia de que a gente pode discutir Inteligência Artificial sem precisar ficar subordinados a apenas duas ou três nações, que já estão na frente – se é verdade que a inteligência artificial nada mais é do que a coleção de dados que as pessoas fazem”, explicou.
O presidente da Telebras, Frederico de Siqueira Filho, destacou em seu discurso que trabalha com o objetivo de “triplicar” o tamanho da estatal. “Estamos prontos para crescer. A nossa infraestrutura está pronta, temos as melhores tecnologias disponíveis”, afirmou.
Siqueira salientou o backbone de 30 mil quilômetros de fibra óptica, que atende todas as regiões do país, além da capacidade do data center da Telebras para suprir a rede privativa fixa do governo, que está na alçada da empresa.”O nosso propósito é armazenar e trafegar dado sensível com criptografia de Estado para as redes privativas”, disse.
A expectativa da estatal seria de iniciar a operação da rede privativa em 2025.
Contratos
Na ocasião, a Telebras assinou um contrato de R$ 153 milhões com o Ministério do Trabalho e Emprego para melhorar a conexão e prestar serviço de monitoramento a ataques cibernéticos em 409 unidades de atendimento ao público, por cinco anos. O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, lembrou que esta é a primeira contratação desde a regulamentação do decreto que determina a prioridade da estatal na prestação de serviço aos entes públicos, mas argumentou que a seleção vai além disso.
“Esse contrato com a Telebras não foi só porque a ela tinha o crédito de preferência por causa da lei. Ele [o Ministério do Trabalho] assinou também porque era [a oferta] que tinha o melhor preço”, acrescentou.
Juscelino ressaltou ainda que será papel da Telebras complementar a cobertura para conectar escolas públicas, o que reforça a posição de relevância da empresa no cumprimento de políticas públicas prioritárias.
“Retiramos a Telebras do plano de privatização e estamos trabalhando incansavelmente para transformá-la em uma empresa forte, lucrativa e, acima de tudo, uma referência para fornecer soluções tecnológicas e de conexão para o governo e para os brasileiros. A Telebras […] tem um papel crucial: levar acesso à internet justamente onde a iniciativa privada não chega”, disse o chefe do MCom.
Reestruturação
Em julho, a estatal anunciou em fato relevante que prepara uma reestruturação estratégica da companhia. Neste ano, a empresa convocou o mercado para opinar ou se candidatar a parcerias que resultem no aumento da receita e sua entrada em novos segmentos. Apesar disso, segundo o governo, a Telebras tem “R$ 1 bilhão em caixa”.
Um das propostas em estudo é a criação de uma joint venture para abordar o segmento privado. Em junho, Siqueira afirmou ao Tele.Síntese que esse plano de sociedade entre a estatal e uma empresa privada levantaria restrições legais que hoje limitam a operação. A RFI com tal plano está aberta para contribuições no site da estatal.
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